Segundo o dicionário Aurélio, harmonia significa: 1 - Disposição bem ordenada entre as partes de um todo. 2 - Proporção, ordem, simetria. 3 - Acordo, conformidade. 4 - V. paz (1 e 2). 5 - Suavidade e sonoridade do estilo. 6 - Consonância ou sucessão agradável de sons.
Dá para se notar que harmonia deve ser uma coisa boa de se ter, seja na arte, na música, no dia a dia, em qualquer lugar, a qualquer hora, na vida enfim. Eu costumo falar muito esta "palavrinha mágica", mas às vezes é bem difícil de compreendê-la, portanto, escrevi este texto.
Falando de interiores de residências, é fácil notar onde há harmonia. Leia novamente os significados que Mestre Aurélio Buarque de Holanda tornou sinônimo da palavra e você vai traduzir em palavras quando encontra um espaço assim: as peças são bem ordenadas entre si, têm proporção e simetria, concordam entre si, são suaves, mas marcam um estilo e muito peculiarmente, deixam a gente em paz.
Este último significado me deixou bem contente: acho que paz é tudo aquilo que a gente encontra num ambiente onde nada "grita", onde as cores são equilibradas, os móveis estão em seu lugar, os adornos enfeitam sem aparecer demais, está tudo enfim, no lugar certo. E é esta sensação que nós, profissionais de interiores, perseguimos em cada trabalho - primordialmente em residências.
Conforto, tranquilidade, paz: harmonia.
Diferentemente de espaços de trabalho, ou do bar ou restaurante da moda, onde variados estímulos podem ser interessantes e até muito desejados, as casas precisam ser o porto seguro de quem as habita.
Se você não é extravagante ou muito incomum, há de concordar comigo neste ponto. Ainda mais vivendo nas grandes cidades, paz é tudo o que se procura ao chegar em casa. E portanto, a harmonia dos interiores é um ponto muito importante numa residência.
Não importa o estilo que se escolha, ou se serão utilizados tons fortes na decoração: a harmonia é possível de se obter sob variados pontos de vista, tudo depende de quem vai habitar o espaço, de suas atividades e de seus gostos pessoais. É por isso que este é um objetivo difícil de ser alcançado. Feitas determinadas escolhas, como um móvel incomum, um pufe revestido em tecido de oncinha, uma parede pintada de amarelo-sol, ou um tapete muito cheio de desenhos, torna-se difícil fazê-los "concordar" com o restante das peças do ambiente.
Mesmo assim, harmonia não é sinônimo de tons pastéis ou de peças totalmente comuns.É bem interessante ter um espaço colorido, vivo, com peças diferentes. Normalmente, tendo um plano previamente traçado, fica tudo mais fácil. Ou seja: se você está montando sua casa aos poucos sem se importar muito com o que já adquiriu, é mais difícil atingir uma harmonia ao final.
Mas é possível prever tudo antecipadamente e ir trazendo aos poucos cada uma das peças para a casa, é claro.
Harmonia com vermelho: qualquer cor pode ser harmônica.
A primeira coisa que afeta (e muito), o conforto, e portanto a harmonia de um ambiente, são os espaços de circulação. Chaises-longues por exemplo, costumam ser peças muito atraentes e desejadas por quem curte conforto e casa bonita. Mas este é um móvel que pede espaço. Se não há como acomodá-la no quarto, ao lado da cama de casal, como aparece em muitas revistas e mostras, é melhor desistir dela.
Porque não usar uma poltrona com um pufe, que pelo menos podem ser afastados entre si quando não estiverem sendo utilizados? Outro lugar onde as chaises fazem bonito e são bastante desejadas são as salas com TVs, ou os home-theaters. É lógico que é super confortável assistir a um filme ou show acomodado numa delas, mas se depois do evento você não tiver como passar para lá e para cá, fica complicado.
Opte por um sofá que vira chaise, e pode ser recolhido quando a seção de cinema terminar, melhorando a circulação de sua sala. Os exemplos de falta de harmonia por causa da escolha de móveis maiores que o possível são inúmeros, e muitas vezes as pessoas se sacrificam durante muito tempo, até perceber que seu conforto é mais importante que um móvel que prejudica a circulação.
Os materiais, acabamentos e as formas dos móveis são outros sérios pontos de discordância em muitos interiores.
Muita gente adquire seus móveis em lojas diferentes e pouco presta atenção às linhas que eles possuem. Um belo aparador com pés de inox polido com tampo em vidro é bem difícil de ser coordenado com um conjunto de cadeiras e mesa de jantar em madeira. Não é que não seja possível, mas normalmente resulta em duas "notas dissonantes" no mesmo espaço.
O desenho de linhas retas do aparador contrasta muito com as cadeiras e a mesa de madeira, muitas vezes com detalhes, recortes e trabalhos sobre a madeira, e o resultado é estranho.
O mesmo acontece com um sofá com muitos detalhes de estofamento em seu encosto e braços, colocado lado a lado com poltronas de fibra: o sofá rebuscado lembra o estilo clássico, e as poltronas, o jeito natural de ser. Este é o fundamento pelo qual não costumam combinar, mas às vezes as pessoas insistem na mistura, ignorando detalhes importantes como o tamanho e a forma do sofá e sua diferença em relação às poltronas.
Da mesma forma, a grande maioria das cabeceiras de camas para colchões tipo americano têm desenhos rebuscados, cheios de detalhes e com mistura de materiais (madeira com metal é bastante comum). Combinar uma cabeceira destas com criados-mudos de linhas retas, costuma resultar estranho, ainda mais pelas proporções que não combinam. Num caso destes, pesquise com muito cuidado as opções, até sentir que as mesinhas de cabeceira "concordam" com a cabeceira escolhida.
Olhando para as paredes das casas, também percebo muita falta de harmonia. Na hora de escolher um quadro para completar o ambiente, é muito comum observarmos peças desproporcionais - isto é, de tamanho menor ou maior do que o espaço disponível - mal feitos, com texturas e cores confusas, enfim, peças realmente feias.
Antes de adquirir qualquer quadro para colocar nas suas salas, corredores ou quartos, observe com muito cuidado tudo que existe disponível nas lojas. É preferível utilizar uma reprodução de um quadro famoso que seja belo do que um quadro "abstrato" adquirido na esquina de casa. E, às vezes, um simples desenho cai melhor do que muito quadro que se encontra por aí.
Algumas fotografias bem emolduradas num living: harmonia fácil.
Finalmente as cores - oh, as cores… - todo mundo gosta delas, e todos têm medo de usá-las, de não usá-las, de usá-las mal, de ficar tudo claro demais, escuro demais, colorido demais. Sim, você corre todos estes riscos quando escolhe uma cor para suas paredes, os tecidos do sofá e das poltronas, e também quando compra colchas, toalhas de banho e de mesa para seu enxoval.
Mas nem por isso deve compulsoriamente pintar tudo de branco, ou escolher aqueles tecidos "begezinhos" que ficam apagadiços. É possível escolher um verde ou um azul suave para as paredes, ou quem sabe um cinza ou um bege mais forte, "sublinhando-os" com um rodapé em branco. Pode também escolher um quadro muito colorido para usar sobre uma parede branca e mudá-lo quando "cansar".
Pode usar um tom mais forte no sofá, desde que tenha cuidado com os estampados ou texturas. Estampados pequenos são mais fáceis de combinar do que os grandes, e texturas acabam ficando "over", mesmo que você escolha um sofá de linhas bem retas e um revestimento em tom bege clássico. Pufes e cadeiras podem receber tecidos de cores mais fortes para "pontuar o espaço", como a gente costuma dizer. Cores fortes em poltronas, só se elas forem de bom design. E não se esqueça de repetir esta cor em outros pontos do mesmo ambiente - nas almofadas e cortinas por exemplo.
Harmonia, harmonia, harmonia. Repita sempre esta palavrinha e confira a todo instante se seus ambientes têm este predicado.
Deve ser reconfortante chegar em casa, e não um tormento. Se algo te deixa desconfortável, troque, esconda, mude, mas sobretudo, não conviva com nada que te faz mal.
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